Materialidades do Estado nas margens do Estado. As arquiteturas institucionais do século XX, a partir da história de uma escola na Puna (Jujuy, Argentina)

Resumo

Em geral, o estudo da arquitetura do Estado centrou-se na análise das produções que tiveram lugar nos centros de poder a partir dos quais os dispositivos do Estado são implantados. Neste contexto, o papel da arquitetura é constituído a partir da centralidade, o que contribui para o argumento da conformação de uma imagem reconhecível e reprodutível do dispositivo estatal. Mas o que acontece naqueles lugares que, longe de fazerem parte da centralidade da construção estatal, se encontram em suas margens, constituindo até mesmo espaços desconhecidos para o próprio Estado? O objetivo deste trabalho é analisar a produção de arquiteturas estatais na Puna de Atacama, Argentina, com base num estudo etnográfico e histórico que nos permite analisar a trajetória deste espaço como parte de uma construção nacional desde o início do século XX. Metodologicamente, compreenderemos a produção arquitetônica do Estado não só a partir do Estado, mas também de perspectivas locais, reconhecendo o complexo de agências que intervêm na arquitetura ao longo do tempo. Este trabalho é realizado mediante um estudo de caso, o de uma escola situada na localidade de Coranzulí, no que hoje é a província de Jujuy, a qual, a partir de um trabalho etnográfico e arquivístico, nos permite analisar a problemática sobre dois eixos analíticonos quais uma rede complexa de atores intervém. O segundo refere-se especificamente às características materiais destas arquiteturas, e à forma como nelas se expressam sentidos que operam sobre a aparente uniformidade do estado. Finalmente, a própria noção de hegemonia é problematizada como uma construção inacabada na qual o papel dos atores locais é fundamental.